Terra Paulistana - dois meses depois
Dois meses depois da minha primeira visita ao canteiro de obras, em novembro de 23, voltei para uma sessão de fotos do giz de cera in loco e mostrar para os pedreiros o feito que parecia causo de pescador. Fazer giz de cera com terra coletada do canteiro de obras. Mais uma vez fui gentilmente recebida no local da obra pela equipe do Sr. Osvaldo que logo me interpelou dizendo:
_ A gente muitas vezes estava se perguntando por onde será que estaria a moça da terra que nunca mais apareceu!
Logo expliquei que além da correria típica do final do ano eu estava rendida aos encantos da terra coletada, descobrindo as cores, adaptando receitas e desenvolvendo as primeiras unidades do giz terra paulistana nesse processo artesanal que une tempo, natureza e paixão.
Quando mostrei a versão do giz de cera terra paulistana eles me olharam com certo ar de dúvida e curiosidade. Levei um pouco de papel para que pudessem testar. Ainda que de maneira tímida alguns se arriscaram na tentativa de um rabisco. As reações foram as mais diversas e surpreendentes:
_ Olha, e não é que funciona mesmo? - disse o Sr. Osvaldo
_ Nossa, não dá para acreditar que isso veio da terra exclamou o Luiz.
_ Isso daí é giz mesmo com aquela terra que a senhora levou? Como é que faz?
Contei para eles como transformo a terra coletada em pigmento para depois fazer a alquimia numa combinação de ceras naturais e a cada palavra o semblante de curiosidade aguçada ia ganhando novos contornos.
Nesta visita, pude perceber o quanto a obra avançava. Como parte dos registros deste estudo com a terra paulistana fiz uma sessão de fotos numa etapa em que a obra e as escavações revelaram novas cores numa parede de terras que me deixaram ainda mais maravilhada e melancólica, pois era visível o quanto o concreto avançava sobre a paleta viva, natural e tão bonita por natureza.
Ao mesmo tempo, percebi que participar os pedreiros desse processo criativo também foi bastante revelador. Parecia que a relação estabelecida com a terra, que eles estão acostumados a remover no ofício que desempenham, ganhava um novo olhar, uma nova função e sem dúvida uma nova história.
Fotografei, guardei esse momento no coração e me despedi dos amigos da obra. Sempre com o aceno do Sr. Osvaldo para voltar qualquer dia desses.
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